domingo, 14 de fevereiro de 2010

OS MORFEMAS (gramática- terceiras séries)



Olá, meus dissecadores de palavras! (Que sinistro!)

Como houve alteração na sequencia do conteúdo, vou postar o de morfologia (não constante na apostila atual). Leiam com atenção. Havendo dúvidas, é só expô-las na nossa próxima sala e procuraremos saná-las.

Lembrem-se: “O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.” (Albert Einstein)
(Detalhe: Olha quem falou!)

Bons estudos! Grande feriado! Abração!
Prof Waner


ELEMENTOS ESTRUTURAIS DA PALAVRA

Sabemos que a morfologia estuda a estrutura, a formação, a classificação e as flexões das palavras. No momento, estamos investigando a estrutura e, posteriormente, os processos de formação das palavras de nossa língua. O nosso trabalho atual consiste, então, em dissecar o vocábulo e entender a função de cada uma das menores unidades SIGNIFICATIVAS da palavra: os morfemas.
CLASSIFICAÇÃO DOS MORFEMAS
RADICAL
Também conhecido por lexema e semantema, é o elemento portador de significado, comum a um grupo de palavras da mesma família. Assim, na família de palavras “terra”, “ terrinha”, “terrestre” e “terráqueo”, existe um elemento comum: terr-, que é o radical.
Veja também outras definições:
►Morfema que exprime o significado básico da palavra.
► É o morfema que corresponde ao sentido básico da palavra.
►É a parte “invariável” responsável pela significação básica do vocábulo.
Nessa última definição, a palavra INVARIÁVEL foi colocada entre aspas pelo fato de, às vezes, o radical variar, sofrer pequenas alterações (ex.: dúvida – indubitável/ fiel- fidelíssimo/ pedra – petrificar).

VOGAL TEMÁTICA
É a vogal que vem depois do radical e que prepara a palavra para ser flexionada. O radical acrescido da vogal temática forma o tema.
SOBRE O TEMA
Como já vimos, tema é a junção do radical com a vogal temática. Se não existir a vogal temática, o tema e o radical serão o mesmo elemento. O mesmo acontecerá quando o radical for terminado em vogal. Por exemplo, em se tratando de verbo, o tema sempre será a soma do radical com a vogal temática - estuda, come, parti; em se tratando de substantivos e adjetivos, nem sempre isso acontecerá. Vejamos alguns exemplos: No substantivo pasta, past é o radical, a, a vogal temática, e pasta o tema; já na palavra leal, o radical e o tema são o mesmo elemento - leal, pois não há vogal temática; e na palavra tatu também, mas agora, porque o radical é terminado pela vogal temática.

A vogal temática divide-se em duas categorias:
a) Vogal temática verbal - determina a qual das três conjugações pertence o verbo: 1ª (AR), 2ª (ER) ou 3ª (IR).
Obs.: O verbo PÔR (antigo verbo “poer”) e seus derivados pertencem à segunda conjugação.
b) Vogal temática nominal - são o “A”, E e O, átonos, que acompanham nomes.
Obs.: Os nomes terminados em consoantes ou vogais tônicas (cônsul, café) não têm vogal temática.
NOTA: Há autores que sustentam que a vogal temática nominal também prepara a palavra para ser derivada, ou seja, para o acréscimo de sufixo. Preferimos, no entanto, a posição de gramáticos como Normélio Zanotto, que consideram como vogal de ligação (ou alomorfia) aquela que antecede um sufixo.
AFIXOS
No processo de derivação das palavras, acrescentamos afixos ao radical para alterar-lhe o sentido ou parte dele. Os afixos, por sua vez, são divididos em duas categorias:
a) prefixo- morfema que se posiciona antes do radical, formando com ele uma nova palavra. Ex.: desleal, relembrar.
b) sufixo - morfema que se posiciona depois do radical, formando com ele uma nova palavra. Ex.: explicável, realmente.
Os afixos apresentam significados. Na palavra DESleal, por exemplo, o prefixo tem um valor negativo; significa “não”, de modo que desleal é aquele que não é leal. Já na palavra leitOR o sufixo tem valor de agente, ou seja, aquele que age, que realiza a ação: “leitor”é aquele que lê. Assim temos:
coordenaDOR- aquele que coordena
relatOR- aquele que relata
Desse modo, conhecer o significado dos afixos nos ajuda a compreender, em muitos casos, o significado das palavras. Para tanto, vale a pena dar um conferida nos seguintes endereços:
http://itaponet.com/math/pdfs/prefsuf.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_prefixos_e_radicais_gregos_e_latinos

DESINÊNCIAS
Se os afixos servem para formarmos novas palavras, ou seja, para efetuarmos a derivação; as desinências, por sua vez, servem para flexionarmos as palavras.
Nos nomes (aqui entendidos como substantivos, adjetivos, numerais e pronomes), existem dois tipos de flexão: de gênero e de número. Assim, em se tratando de nomes, temos as desinências nominais. São elas:
a) desinência de gênero - indica que a palavra pertence ao gênero feminino, em oposição ao masculino. Ex.: garota (em oposição à forma garoto)
b) desinência de número – indica que a palavra está no plural. Para indicação de número, costuma-se utilizar o morfema –S, que indica o plural em aposição à ausência de morfema que indica o singular. Ex.: garoto (morfema ZERO em desinência de número) e garotoS (desinência de número)
Vocês já sabem como distinguir a desinência de gênero da vogal temática, não é mesmo? Vamos relembrar: enquanto as desinências são comutáveis (podem ser trocadas pela oposição A/O), as vogais temáticas não são, uma vez que indicam que a palavra só existe de uma forma, ou seja, não apresenta o correspondente masculino. Desse modo, podemos dizer que:
►em “garota”, há desinência de gênero, pois o “a”final indica uma flexão de gênero: “garota” se opõe à forma “garoto”;
►já em “cadeira”, há vogal temática, uma vez que tal palavra não é flexionável, isto é, apresenta apenas uma única forma, não existindo, portanto, o opositor “cadeiro”.

Além dos nomes, existe outra classe gramatical abundante em flexão: o verbo, que se flexiona em modo, tempo, número e pessoa. As desinências que indicam tais flexões são chamadas de desinências verbais, divididas em duas categorias:
a) desinência de modo e tempo (ou modo-temporal) – indica, obviamente, o modo e o tempo em que se encontra o verbo. Na palavra “cantaVA”, por exemplo, a desinência destacada indica que o verbo está no pretérito imperfeito (tempo) do modo indicativo.
b) desinência de número e pessoa (ou desinência número-pessoal) – indica, evidentemente, o número (singular ou plural) e a pessoas (1ª, 2ª ou 3ª). Na palavra cantaSTE, o morfema destacado indica que o verbo se refere à segunda pessoa do singular (tu).
Vale ressaltar que nem sempre o verbo apresenta todas as desinências. No primeiro caso, por exemplo, a palavra “cantava” não apresenta desinência de número pessoa. Tanto é verdade que só o contexto pode determinar a pessoa: pode ser “eu cantava” (1ª pessoa do singular) ou “ele/ela cantava”(3ª. pessoa do singular). Já no segundo caso, a palavra “cantaste” só apresenta desinência de número e pessoa. É apenas o nosso conhecimento da língua que nos permite inferir o tempo e o modo a que o verbo se refere (pretérito perfeito do indicativo).
Quadro das principais desinências
DESINÊNCIAS
NOMINAIS Gênero masculino (-o)
feminino (-a)
Número singular (não há)
plural (-s)
VERBAIS de tempo e modo -va,-ve: imperfeito do indicativo, 1ª conjugação
-ia, -ie: imperfeito do indicativo, 2ª e 3ª conjugações
-ra, -re: mais-que-perfeito do indicativo (átono)
-sse: imperfeito do subjuntivo
-ra, -re: futuro do presente do indicativo (tônico)
-ria, -rie: futuro do pretérito do indicativo
-r: futuro do subjuntivo
-e: presente do subjuntivo, 1º conjugação
-a: presente do subjuntivo, 2º e 3º conjugações
de pessoa e número -o: 1ª pessoa do singular, presente do indicativo
-s: 2ª pessoa do singular
-mos: 1ª pessoa do plural
-is-, -des: 2ª pessoa do plural
-m: 3ª pessoa do plural
VERBO-NOMINAIS -r: infinitivo
-ndo: gerúndio
-do: particípio regular


Mais detalhes no endereço http://www.scribd.com/doc/18947899/Quadro-das-desinencias
INFIXOS (vogais e consoantes de ligação)
As vogais e consoantes de ligação são morfemas que surgem por motivos eufônicos, ou seja, para facilitar ou mesmo possibilitar a pronúncia de uma determinada palavra. Exemplos:
parisiense (paris= radical, ense=sufixo, vogal de ligação=i)
Outros exemplos:
gas-ô-metro, alv-i-negro, pau-l-ada, cafe-t-eira, cha-l-eira, inset-i-cida, pe-z-inho, pobr-e-tão, etc.
Bife aqui na mesa e bife à milanesa
Pois bem, meus queridos, muitas coisas são parecidas nesta vida. Uma delas é o conceito de gênero e sexo (http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=oassuntoe.interna&id_tema=8&id_subtema=7)
Trata-se, entretanto, de elementos pertencentes a universos diferentes (Deu eco!): o primeiro, à gramática e o segundo, à biologia.
Gênero é a classificação das palavras de nossa língua em duas categorias- masculina ou feminina:
►porta (a porta)= palavra feminina
►testemunha (a testemunha)= palavra feminina
► algoz (o algoz) = masculina
Há, contudo, na nossa língua (herança do latim), palavras, que ficam em cima do muro, pois não são nem femininas nem masculinas; são neutras: isto, isso, aquilo. Por essa indefinição, designam algo genérico.
Sexo, por sua vez, é (também) a classificação biológica em macho e fêmea:
Se disséssemos que a palavra “porta” é do sexo (e não do gênero) feminino, ficaria implícito que existe o “porto”, o marido apaixonado que vê na sua amada, a porta, um porto seguro. O amor é lindo, não? Mas isso não importa agora. Alguém poderia contestar, afirmando que existe sim a palavra porto. Existir até que existe, mas não é o porto, o digníssimo da porta. Além do mais, o porto não poderia, por questões semânticas, ser o cônjuge da porta, pois seria um casamento fadado à falência. Já imaginaram o porto dizendo “Minha mulher é uma porta!”? Pois bem, dependendo do temperamento da porta, isso lhe soaria como algo pejorativo. O divórcio seria, então, favas contadas.
Mas toda essa “filosofança” amorosa-gramatical me lembra uma crônica de Luís Fernando Veríssimo sobre essa polêmica sexo/gênero. Muito interessante! Interessante mesmo! Não é propaganda enganosa! E, se você acha que estou mentindo, vá em frente: leia só para me provar que estou mentindo.

SEXA
- Pai…
- Hmmm?
- Como é o feminino de sexo?
- O quê?
- O feminino de sexo.
- Não tem.
- Sexo não tem feminino?
- Não.
- Só tem sexo masculino?
- É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
- E como é o feminino de sexo?
- Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "sexo" é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
- Não devia ser "a sexa"?
- Não.
- Por que não?
- Porque não! Desculpe. Porque não. "Sexo" é sempre masculino.
- O sexo da mulher é masculino?
- É. Não! O sexo da mulher é feminino.
- E como é o feminino?
- Sexo mesmo. Igual ao do homem.
- O sexo da mulher é igual ao do homem?
- É. Quer dizer… Olha aqui. Tem o sexo masculino e o sexo feminino, certo?
- Certo.
- São duas coisas diferentes.
- Então como é o feminino de sexo?
- É igual ao masculino.
- Mas não são diferentes?
- Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.
- Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
- A palavra é masculina.
- Não. "A palavra" é feminino. Se fosse masculina seria "O pal…"
- Chega! Vai brincar, vai.
O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:
- Temos que ficar de olho nesse guri…
- Por quê?
- Ele só pensa em gramática.

E aí? Fala a verdade! Eu não estava dizendo a verdade?

Um comentário:

  1. Adorei a crônica, Professora. Eu também só penso em gramática...
    Beijos
    Luis Vicente 3º B

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