quinta-feira, 27 de maio de 2010

Carta ou editorial (Extensivo Etapa)



Leia a notícia abaixo para, depois, você se posicionar sobre a polêmica em questão.

24/05/2010 - 14h34

Reino Unido terá 1º comercial de clínicas de aborto na TV; veja vídeo
da BBC Brasil
Uma organização que reúne clínicas onde são feitos abortos e que dá aconselhamento sobre o tema vai veicular um comercial nesta segunda-feira pela primeira vez na televisão britânica.

A campanha da Mary Stopes International, que lida com gestações indesejadas e abortos, tem o objetivo de aumentar a conscientização sobre a saúde sexual, segundo a organização.
O comercial de 30 segundos será mostrado na emissora Channel 4 às 22h10 do horário local (18h10 na hora de Brasília) e será repetido na programação até o fim de junho.
Ativistas antiaborto dizem que o comercial representa uma banalização da vida humana e que podem entrar na justiça contra sua transmissão.
"Apoio e conselhos"
No seu website britânico, a Marie Stopes diz ter nove clínicas de aborto em toda o Reino Unido.
O comercial não menciona a palavra aborto, mas pergunta "você está atrasada? (no seu ciclo menstrual)" e aconselha quem está enfrentando uma gravidez indesejada a procurar a linha de atendimento 24 horas da organização.
A Marie Stopes, que não tem fins lucrativos, diz que quem telefonar receberá "apoio, conselhos e serviços sem julgamento".
Em um comunicado, a organização diz que "no passado não estava claro se serviços de aconselhamento para gestações não planejadas podiam colocar anúncios na TV (...) Após uma consulta, nós descobrimos que é permitido sob a atual orientação porque nós somos uma organização beneficente e não comercial".
O órgão que controla a publicidade no Reino Unido, a Advertising Standards Agency (ASA), disse que faz muito tempo que organizações não-comerciais que fornecem serviços pós-concepção vêm sendo autorizadas a fazer comerciais.
Um porta-voz do órgão disse que "qualquer comercial que é veiculado precisa obedecer todas as regras relevantes do Código de Publicidade, que tem o objetivo de garantir que os anúncios não são enganosos e são socialmente responsáveis".
"Se os telespectadores tiverem preocupações sobre o conteúdo ou o horário de transmissão do anúncio, a ASA poderá considerar reclamações depois que o comercial for ao ar."
Números
Os últimos dados oficiais, de 2008, dizem que houve 195.300 abortos na Inglaterra e no País de Gales e 13.817 na Escócia.
A Marie Stopes diz que cerca de 80% dos abortos que fez em 2009 foram realizados graças ao sistema público de saúde, que pagou pelos procedimentos.
"Apenas no ano passado nós recebemos 350 mil ligações para nossa linha 24 horas. Claramente há centenas de milhares de mulheres que querem e precisam de informação e conselhos sobre saúde sexual e acesso a serviços", disse a presidente da organização, Dana Hovig.
"Nós esperamos que a nova campanha 'Você está atrasada?' incentive as pessoas a falarem sobre suas escolhas, incluindo o aborto, de forma mais aberta e honesta, e que dê poder para que as mulheres tomem decisões confiantes e informadas sobre sua saúde sexual", disse.
Legalidade
A porta-voz da organização antiaborto Life, Michaela Aston, disse que "permitir que provedores de aborto anunciem na TV, como se não fossem diferentes de fábricas de carro ou detergente, é grotesco".
"Sugerir que o aborto é mais uma decisão de consumo banaliza a vida humana e completamente fere o espírito da Lei do Aborto, de 1967, que deveria permitir um número pequeno de abortos legais em um número limitado de casos sérios, mas que vem sendo distorcida para permitir abortos em massa."
A Sociedade de Proteção de Crianças Não-Nascidas disse que está buscando aconselhamento sobre a legalidade do comercial.
O porta-voz da organização Anthony Ozimic disse que a "o enorme lucro multinacional da Marie Stopes significa que pode pagar para anunciar na TV, o que é muito caro".
"Isso cria um campo injusto, já que grupos pró-vida simplesmente não podem pagar por tais comerciais."
"Anúncios de aborto irão banalizar o aborto. É um insulto às centenas de mulheres feridas pelo aborto todos os dias. Esses anúncios são ofensivos e irão iludir os telespectadores sobre a realidade do aborto", disse Ozimic.

(http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/739902-reino-unido-tera-1-comercial-de-clinicas-de-aborto-na-tv-veja-video.shtml)

PROPOSTA DE REDAÇÃO
Posicione-se em relação à polêmica por meio de um dos seguintes gêneros: editorial ou carta aberta.

domingo, 16 de maio de 2010

PROPOSTA DE REDAÇÃO (Extensivo)

VOCÊ DECIDE: EDITORIAL OU CARTA ARGUMENTATIVA



Leia a coletânea abaixo para depois escolher uma das propostas de redação.

TEXTO 1

Campanha Ficha Limpa contra a candidatura de políticos em débito com a Justiça
A Campanha Ficha Limpa foi lançada em abril de 2008 com o objetivo de melhorar o perfil dos candidatos e candidatas a cargos eletivos do país. Para isso, foi elaborado um Projeto de Lei de iniciativa popular sobre a vida pregressa dos candidatos que pretende tornar mais rígidos os critérios de inelegibilidades, ou seja, de quem não pode se candidatar.
O PL de iniciativa popular precisa ser votado e aprovado no Congresso Nacional para se tornar lei e passar a valer em todas as eleições brasileiras.
No dia 29 de setembro, o MCCE entregou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, o Projeto de Lei de iniciativa popular, junto com 1 milhão e 300 mil assinaturas o que corresponde à participação de 1% do eleitorado brasileiro.
O PL já foi protocolado na mesa da Câmara e iniciou seu processo de tramitação na Casa, que será acompanhado de perto pelo MCCE.
A iniciativa do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) em lançar essa Campanha surgiu de uma necessidade expressa na própria Constituição Federal de 1988, que determina a inclusão de novos critérios de inelegibilidades, considerando a vida pregressa dos candidatos. Assim, quando aprovado, o Projeto de Lei de iniciativa popular vai alterar a Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, já existente, chamada Lei das Inelegibilidades.
O Projeto de Lei de iniciativa popular sobre a vida pregressa dos candidatos pretende:
Aumentar as situações que impeçam o registro de uma candidatura, incluindo:
Pessoas condenadas em primeira ou única instância ou com denúncia recebida por um tribunal – no caso de políticos com foro privilegiado – em virtude de crimes graves como: racismo, homicídio, estupro, tráfico de drogas e desvio de verbas públicas. Essas pessoas devem ser preventivamente afastadas das eleições ate que resolvam seus problemas com a Justiça Criminal; Parlamentares que renunciaram ao cargo para evitar abertura de processo por quebra de decoro ou por desrespeito à Constituição e fugir de possíveis punições;
Pessoas condenadas em representações por compra de votos ou uso eleitoral da máquina administrativa.
Estender o período que impede a candidatura, que passaria a ser de oito anos.
Tornar mais rápidos os processos judiciais sobre abuso de poder nas eleições, fazendo com que as decisões sejam executadas imediatamente, mesmo que ainda caibam recursos.
(http://mcce.org.br/node/125)

TEXTO 2
Ficha Limpa já tem relator no Senado Federal

qui, 13/05/2010 - 09:38 — MCCE
Nesta quarta-feira (12/05), além do projeto Ficha Limpa ser entregue ao presidente do Senado Federal, José Sarney, também foi escolhido o relator do texto, senador Demóstenes Torres (DEM-GO). De acordo com o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), oficialmente, a pressão popular foi transferida da Câmara dos Deputados para o Senado, na tentativa de que a votação nesta casa seja mais rápida
(http://www.mcce.org.br/)

TEXTO 3
Sarney quer urgência para ficha limpa; Jucá diz que não vota sob pressão
12/05/2010 19h22 - Atualizado em 12/05/2010 19h36


Projeto que barra candidatos sem condenação definitiva já passou na Câmara.
Presidente do Senado disse que vai pedir rapidez a colégio de líderes.



O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou nesta quarta-feira (12) que pretende acelerar na Casa a tramitação do projeto ficha limpa, aprovado na última terça-feira pela Câmara dos Deputados. A decisão, entretanto, deve enfrentar resistência do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que disse nesta tarde que não vai ser votado sob “pressão”.

O projeto de iniciativa popular tem como objetivo proibir a candidatura de políticos condenados na Justiça em decisões colegiadas (decididas por mais de um juiz ou desembargador) em processos não concluídos.

Vou propor ao colégio de líderes para que façamos essa votação em regime de urgência"
José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado

Sarney recebeu nesta manhã integrantes do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) para tratar do assunto. O senador afirmou que vai pedir aos líderes a aprovação do regime de urgência. Com isso a proposta poderia ser votada diretamente em plenário, sem precisar de análise de comissões técnicas da Casa. “Vou propor ao colégio de líderes para que façamos essa votação em regime de urgência.”

Mesmo que isso aconteça, no entanto, existem outros impedimentos regimentais. A pauta do Senado está trancada por quatro medidas provisórias e pelos quatro projetos que tratam do pré-sal, que têm urgência constitucional.
(http://campanhafichalimpasp.blogspot.com/)

TEXTO 4
* Fonte: Agência Brasil.

11/05/2010 19h45 - Atualizado em 12/05/2010 19h02

Wilson Romano Calil questiona voto que possa ser do interesse do povo
Da Redação
Um dos destaques da semana foi a votação na câmara dos deputados do projeto para impedir a candidatura de políticos condenados pela justiça. O texto básico da proposta foi aprovado, mas a votação das emendas ficou para a próxima semana.

Pela proposta, só ficaria inelegível o candidato condenado por um colegiado, um grupo de juízes. E se tivesse o registro negado, o candidato ainda poderia conseguir uma liminar para disputar a eleição. Mas os processos contra ele seriam julgados com prioridade.

Dos 445 parlamentares que estavam na sessão, 55 deixaram de votar, entre eles, o deputado Vadão Gomes. 388 foram favoráveis, inclusive os outros quatro representantes da região.

Para virar lei, o projeto ainda precisa ser aprovado pelos senadores e receber a assinatura do presidente Lula. Os defensores das candidaturas com ficha limpa querem que as novas regras sejam adotadas já nas eleições de outubro.


"Os senhores viram aquela picareta que é procuradora do estado lá no Rio de Janeiro, através do seu advogado disse que não vai se apresentar para a prisão porque é um direito seu. Tecnicamente, do ponto de vista jurídico, ela está certa. Mas do ponto de vista moral, não é direito seu agredir uma criança de dois anos de idade, até deformar-lhe a fisionomia.

Do mesmo modo, os ilustres deputados aprovaram em parte o texto da lei não permitindo que os fichas sujas sejam candidatos. Tecnicamente também certo. Mas sabem na prática o que vai acontecer? Eles querem que o fator impeditivo só apareça se o candidato tiver sido condenado por um colegiado de juízes, e ainda que condenado tenha direito a liminar.

Traduzindo tudo isso, eles aprovaram uma lei inexequível. O cara pálida fica no cargo garantido por uma liminar e ele terminará o mandato, e o seu caso não terá sido resolvido.

É isso aí meu povo brasileiro, é isso aí que acontece quando não pensamos bem na hora de votar. É preciso votar em gente correta, que tenha um fator primordial chamado vergonha na cara, senão iremos continuar do mesmo jeito: as leis que podem melhorar o Brasil jamais serão votadas para serem aplicadas de forma exequível.

Sabem por quê? Porque a maioria dos deputados, e dos senadores jamais votará uma lei que possa ser do interesse do povo, do interesse do Brasil, mas que não seja do interesse deles. E tenho dito. "
(http://tn.temmais.com/noticia/6/7768/comentarista-do-tem-noti%CC%81cias-fala-sobre-projeto-ficha-limpa.htm)


TEXTO 5
12/5/2010 05:09:52
CÂMARA CONCLUI SOBRE PROJETO FICHA LIMPA




Destaques que faziam alterações no projeto foram rejeitados no plenário. Texto veta candidatura de condenados em decisão colegiada.
A Câmara dos Deputados concluiu nesta terça-feira (11) a votação do projeto ficha limpa. A proposição segue agora para análise do Senado Federal. O projeto surgiu da iniciativa popular do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE). Foram reunidas mais de 1,6 milhões de assinaturas em favor da proposta, que chegou ao Congresso em setembro do ano passado. O texto segue agora para o Senado Federal.
O texto aprovado pela Câmara proíbe por oito anos a candidatura de políticos condenados na Justiça em decisão colegiada –tomada por vários juízes ou desembargadores–, mesmo que o trâmite do processo não tenha sido concluído no Judiciário. Este tipo de decisão acontece geralmente na segunda instância ou no caso de pessoas com foro privilegiado.
O parecer aprovado, de autoria de José Eduardo Cardozo (PT-SP), prevê ainda a possibilidade de um recurso para garantir a candidatura a um órgão colegiado superior. Caso seja concedida a permissão para a candidatura, o processo contra o político ganharia prioridade para tramitação.
O texto que sai da Câmara é mais flexível do que o proposto pelo MCCE. A idéia inicial era proibir a candidatura de todos os condenados em primeira instância. Atualmente, só políticos condenados em última instância, o chamado trânsito em julgado, são impedidos de disputar.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcanti, já afirmou que o projeto precisaria ser aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva até 5 de junho para ter validade para as eleições de outubro. Outros, como o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), acreditam que pelo princípio da anualidade não seria possível fazer com que a mudança valha já para essas eleições. A aplicação ficará a cargo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), caso o projeto seja aprovado no prazo sugerido pelo presidente da OAB.
No Senado, no entanto, há empecilhos regimentais para a votação. A pauta da Casa está trancada por Medidas Provisórias e pelos projetos do pré-sal, que tem urgência constitucional. Diferente da Câmara, onde são permitidas algumas votações mesmo com o trancamento da pauta, no Senado nunca se realizou votações desta forma.
(http://www.infotc.com.br/viz_conteudo.asp?codigo=125201066936996)





PROPOSTA 1
Escreva um editorial, discuntindo a validade do referido projeto tal como foi aprovado. Considere, como ponto de partida, a crítica feita no texto 4 e o seguinte trecho do texto 5: “O texto que sai da Câmara é mais flexível do que o proposto pelo MCCE. A idéia inicial era proibir a candidatura de todos os condenados em primeira instância. Atualmente, só políticos condenados em última instância, o chamado trânsito em julgado, são impedidos de disputar.”


PROPOSTA 2
Escreva uma carta argumentativa ao Presidente do Senado ( o senador José Sarney), corroborando a intenção demonstrada pelo senador de agilizar a votação do referido projeto, de modo que seja aprovado até o dia 5 de junho, prazo apontado pela OAB como necessário para que o Ficha Limpa possa valer já para as eleições dete ano.
Fale ao senador da urgência de se pôr tal votação em pauta para um passo preliminar rumo à moralização da política em nosso país. Mostre ainda sua indignação diante do fato de o texto original ter sofrido mudanças que beneficiam os políticos “ficha suja” (de acordo com os textos 4 e 5).

A ARTE DE ESCREVER HISTÓRIAS (segundos anos)



E, finalmente - depois de termos estudado o relato nas suas várias modalidades, como o diário pessoal, relato impessoal (relatório e notícia) - chegamos, à narrativa. “Será que a prof já está ficando biruta? Relatar e narrar não é a mesma coisa?”. Hummm, pensando mal de mim, hein! Não contavas com minha astúcia! Acho que estou ficando onisciente! Pois bem, se você teve esse pensamento, é porque se esqueceu daquela questãozinha do nosso simulado do primeiro bimestre e também do Biruta (?!). Como assim? Esquecer-se do simulado ainda é compreensível. Mas esquecer Biruta?! Qual é? Biruta é como o primeiro beijo: INESQUECÍVELl! Tá, mas se ainda assim você, criatura sem consideração, não se lembra, se tudo parece ter se perdido nas “cinzas das horas”, “no vão das coisas que dissemos”, vamos, então, fazer um pequeno “flashback”?

DIFERENÇA ENTRE RELATAR E NARRAR:
O relato é uma exposição objetiva que tem o intuito de registrar acontecimentos ou fatos reais. É próprio da linguagem jornalística, de depoimentos pessoais etc.

A narrativa é uma exposição mais elaborada em que personagens, ação e espaço sejam um todo que vai ser construído de forma fictícia.

A NARRATIVA
“_ Biruta, eh, Biritua”, Biruta que nos fez viver uma catarse! Um texto sensível que demonstra toda a supremacia do narrar sobre o relatar. O relato nos informa, mas a narrativa nos transforma! E esse poder da narrativa está nas palavras, na LITERARIEDADE, ou seja, naquele conjunto de características específicas (lingüísticas, semióticas, sociológicas) que permitem considerar um texto como literário. E, se é arte (narração), tem finalidade em si mesmo, não é algo utilitário (relato).

A “MÃE” DO BIRUTA:

(...) "Com a ponta da língua pude sentir a semente apontando
sob a polpa. Varei-a. O sumo ácido inundou-me a boca. Cuspi
a semente: assim queria escrever, indo ao âmago do âmago
até atingir a semente resguardada lá no fundo como um feto".

(Verde lagarto amarelo)

Lygia Fagundes Telles (São Paulo, 19 de abril de 1923) é uma escritora brasileira, galardoada com o Prémio Camões em 2005.
É membro da Academia Paulista de Letras desde 1982, da Academia Brasileira de Letras desde 1985 e da Academia das Ciências de Lisboa desde 1987.
obras
romance:

Ciranda de Pedra (1954), Verão no Aquário (1963), As Meninas (1973) e As Horas Nuas (1989)
contos:
Antes do Baile Verde (1972), Seminário dos Ratos (1977), Mistérios (1981), A Estrutura da Bolha de Sabão (1991), A Noite Escura e mais Eu (1996), Venha Ver o Pôr-do-sol (1987), Oito Contos de Amor (1997) e Invenção e Memória (2000)
miniaturas: A Disciplina do Amor (1980)

RECORDANDO O BIRUTINHA MAIS LINDO...

Biruta
Lygia Fagundes Telles

Alonso foi para o quintal carregando uma bacia cheia de louça suja. Andava cm dificuldade, tentando equilibrar a bacia que era demasiado pesada para seus bracinhos finos.
- Biruta, eh, Biruta! - chamou sem se voltar.
O cachorro saiu de dentro da garagem. Era pequenino e branco, uma orelha em pé e a outra completamente caída.
- Sente-se aí, Biruta, que vamos ter uma conversinha - disse Alonso pousando a bacia ao lado do tanque. Ajoelhou-se, arregaçou as mangas da camisa e começou a lavar os pratos.
Biruta sentou-se muito atento, inclinando interrogativamente a cabeça ora para a direita, ora para a esquerda, como se quisesse apreender melhor as palavras do seu dono. A orelha caída ergueu-se um pouco, enquanto a outra empinou, aguda e ereta. Entre elas, formaram-se dois vincos, próprios de uma testa franzida do esforço de meditação.
- Leduína disse que você entrou no quarto dela - começou o menino num tom brando. - E subiu em cima da cama e focinhou as cobertas e mordeu uma carteirinha de couro que ela deixou lá. A carteira era meio velha e ela não ligou muito. Mas se fosse uma carteira nova, Biruta! Se fosse uma carteira nova! Me diga agora o que é que ia acontecer se ela fosse uma carteira nova!? Leduína te dava uma surra e eu não podia fazer nada, como daquela outra vez que você arrebentou a franja da cortina, lembra? Você se lembra muito bem, sim senhor, não precisa fazer essa cara de inocente!...
Biruta deitou-se, enfiou o focinho entre as patas e baixou a orelha. Agora, ambas as orelhas estavam no mesmo nível, murchas, as pontas quase tocando o chão. Seu olhar interrogativo parecia perguntar:
"Mas o que foi que eu fiz, Alonso? Não me lembro de nada..."
- Lembra sim senhor! E não adianta ficar aí com essa cara de doente, que não acredito, ouviu? Ouviu, Biruta?! - repetiu Alonso lavando furiosamente os pratos. Com um gesto irritado, arregaçou as mangas que já escorregavam sobre os pulsos finos. Sacudiu as mãos cheias de espuma. Tinha as mãos de velho
- Alonso, anda ligeiro com essa louça! - gritou Leduína, aparecendo por um momento na janela da cozinha. - Já está escurecendo, tenho que sair!
- Já vou indo - respondeu o menino enquanto removia a água da boca. Voltou-se para o cachorro. E seu rostinho pálido se confrangeu de tristeza. Por que Biruta não se emendava, por que? Por que razão não se esforçava um pouco para ser melhorzinho? Dona Zulu já andava impaciente. Leduína também. Biruta fez isso, Biruta fez aquilo...
Lembrou-se do dia em que o cachorro entrou na geladeira e tirou de lá a carne. Leduína ficou desesperada, vinham visitas para o jantar, precisava encher os pastéis, "Alonso, você não viu onde deixei a carne?" Ele estremeceu. Biruta! Disfarçadamente, foi à garagem no fundo do quintal, onde dormia com o cachorro num velho colchão metido num ângulo de parede. Biruta estava lá deitado bem em cima do travesseiro, com a posta de carne entre as patas, comendo tranquilamente. Alonso arrancou-lhe a carne, escondeu-a dentro da camisa e voltou à cozinha. Deteve-se na porta ao ouvir Leduína queixar-se à dona Zulu que a carne desaparecera, aproximava-se a hora do jantar e o açougue já estava fechado, "o que é que eu faço, dona Zulu?"
Ambas estavam na sala. Podia entrever a patroa a escovar freneticamente os cabelos. Ele então tirou a carne de dentro da camisa, ajeitou o papel já todo roto que a envolvia e entrou com a posta na mão
- Está aqui Leduína.
- Mas falta um pedaço!
- Esse pedaço eu tirei pra mim. Eu estava com vontade de comer um bife e aproveitei quando você foi na quitanda.
- Mas por que você escondeu o resto? - perguntou a patroa, aproximando-se
- Por que fiquei com medo.
Ele ainda tinha bem viva na memória a dor brutal que sentira nas mãos corajosamente abertas para os golpes da escova. Lágrimas saltaram-lhe dos olhos. Os dedos foram ficando roxos, mas ela continuava batendo com aquele mesmo vigor obstinado com que escovara os cabelos, batendo, batendo, como se não pudesse parar mais.
- Atrevido! Ainda te devolvo pro asilo, seu ladrãzinho!
Quando ele voltou à garagem, Biruta já estava lá, as duas orelhas caídas, o focinho entre as patas, piscando, piscando os olhinhos ternos. "Biruta, Biruta, apanhei por sua causa, mas não faz mal."
Biruta então ganiu sentidamente. Lambeu-lhe as lágrimas. Lambeu-lhe as mãos.
Isso tinha acontecido há duas semanas. E agora Biruta mordera a carteirinha de Leduína. E se fosse a carteira de dona Zulu?
- Hem, Biruta?! E se fosse a carteira de dona Zulu?
Já desinteressado, Biruta mascava uma folha seca.
- Por que você não arrebenta minhas coisas? - prosseguiu o menino elevado a voz. - Você sabe que tem todas as minhas pra morder, não sabe? Pois agora não te dou presente de Natal, está acabado. você vai ver se ganha alguma coisa. Você vai ver!...
Girou sobre os calcanhares, dando as costas ao cachorro. Resmungou ainda enquanto empilhava a louça na bacia. Em seguida, calou-se, esperando qualquer reação por parte do cachorro. Como a reação tardasse, lançou-lhe um olhar furtivo. Biruta dormia profundamente.
Alonso então sorriu. Biruta era como uma criança. Por que não entendiam isso? Não fazia nada por mal, queria só brincar... Por que dona Zulu tinha tanta raiva dele? Ele só queria brincar, como as crianças. Por que dona Zulu tinha tanta raiva de crianças?
Uma expressão desolada amarfanhou o rostinho do menino. "Por que dona Zulu tem que ser assim? O doutor é bom, quer dizer, nunca se importou nem comigo nem com você, é como se a gente não existisse, Leduína tem aquele jeitão dela, mas duas vezes já me protegeu. Só dona Zulu não entende que você é que nem uma criancinha. Ah Biruta, Biruta, cresça logo, pelo amor de Deus! Cresça logo e fique um cachorro sossegado, com bastante pêlo e as duas orelhas de pé! Você vai ficar lindo quando crescer, Biruta, eu sei que vai!"
- Alonso! - Era a voz de Leduína. - Deixe de falar sozinho e traga logo essa bacia. Já está quase noite, menino.
Alonso ergueu-se afobadamente. Mas antes de pegar a bacia meteu a mão na água e espargiu-a no focinho do cachorro.
- Chega de dormir, seu vagabundo!
Biruta abriu os olhos, bocejou com um ganido e levantou-se, estirando as patas dianteiras, num longo espreguiçamento.
O menino equilibrou penosamente a bacia na cabeça. Biruta seguiu-o aos pulos, mordendo-lhe os tornozelos, dependurando-se com os dentes na barra do seu avental.
- Aproveita, seu bandidinho! - riu-se Alonso. - Aproveita que eu estou com a mão ocupada, aproveita!
Assim que colocou a bacia na mesa, ele inclinou-se para agarrar o cachorro. Mas Biruta esquivou-se, latindo. O menino vergou o corpo sacudido pelo riso.
- Aí, Leduína que o Biruta judiou de mim!...
A empregada pôs-se guardar rapidamente a louça. Estendeu-lhe uma caçarola com batatas:
- Olha aí para o seu jantar. Tem ainda arroz e carne no forno.
- Mas só eu vou jantar? - surpreendeu-se Alonso ajeitando a caçarola no colo.
- Hoje é dia de Natal, menino. Eles vão jantar fora, eu também tenho a minha festa. Você vai jantar sozinho.
Alonso inclinou-se. E espiou apreensivo para debaixo do fogão. Dois olhinhos brilharam no escuro: Biruta estava lá. Alonso suspirou. Era bom quando Biruta resolvia se sentar! Melhor ainda quando dormia. Tinha então a certeza de que não estava acontecendo nada. A
trégua. Voltou-se para Leduína.
- O que o seu filho vai ganhar?
- Um cavalinho - disse a mulher. A voz suavizou. - Quando ele acordar amanhã, vai encontrar o cavalinho dentro do sapato dele. Vivia me atormentado que queria um cavalinho, que queria um cavalinho...
Alonso pegou uma batata cozida, morna ainda. Fechou-a nas mãos arroxeadas.
- Lá no asilo, no Natal, apareciam umas moços com uns saquinhos debalas e roupas. Tinha uma que já me conhecia, me dava sempre dois pacotinhos em lugar de um. A madrinha. Um dia, me deu sapato, um casaquinho de malha e uma camisa.
- Por que ela não ficou com você?
- Ela disse uma vez que ia me levar, ela disse. Depois, não sei por que ela não apareceu mais...
Deixou cair na caçarola a batata já fria. E ficou em silêncio, as mãos abertas em torno a vasilha. Apertou os olhos. Deles, irradiou-se para todo o rosto uma expressão dura. Dois anos seguidos esperou por ela. Pois não prometera levá-lo? Não prometera? Nem lhe sabia o nome, não sabia nada a seu respeito, era apenas " a madrinha". Inutilmente a preocurava entre as moças que apareciam no fim do ano com os pacotes de pesentes. Inutilmente cantava mais alto do que todos no fim da festa, quando então se reunia aos meninos da capela. Ah, se ela pudesse ouvi-lo!

"... O bom jesus é quem nos traz
A mensagem de amor e alegria"...
- Também é muita responsabilidade tirar crianças para criar! - disse Leduína desamarrando o avental. - Já chega os que a gente tem...
Alonso baixou o olhar. E de repente sua fisionomia iluminou-se. Puxou o cachorro pelo rabo. Riu-se:
-Eh, Biruta! Está com fome, Biruta? Seu vagabundo! Vagabundo!... Sabe, Leduína, Biruta também vai ganhar um presente que está escondido lá debaixo do meu travesseiro. Com aquele dinheirinho que você me deu, lembra? Comprei uma bolinha de borracha, uma beleza de bola! Agora dele não vai precisar mais morder suas coisas, tem a bolinha só pra isso. Ele não vai mais mexer em nada, sabe, Leduína?
- Hoje cedo ele não esteve no quarto da dona Zulu?
O menino empalideceu.
- Só se foi na hora em que fui lavar o automóvel... Por que Leduína? Por quê? Que foi que aconteceu?
Ela hesitou. E encolheu os ombros.
- Nada. Perguntei à toa.
A porta abriu-se bruscamente e a patroa apareceu. Alonso encolheu-se um pouco. Sondou a fisionomia da mulher. Mas ela estava sorridente. O menino sorriu também.
- Ainda não foi pra sua festa, Leduína? - perguntou a moça num tom afável. Abotoava os punhos do vestido de renda. - Pensei que você já estivesse saído... - E antes que a empregada respondesse, ela voltou-se para Alonso: - Então? Preparando seu jantarzinho?
O menino baixou a cabeça. Quando ela lhe falava assim mansamente, ele não sabia o que dizer.
- O Biruta está limpo, não está? - Prosseguiu a mulher, inclinando-se para fazer uma carícia na cabeça do cachorro. Biruta baixou as orelhas, ganiu dolorido e escondeu-se debaixo do fogão.
Alonso tentou encobrir-lhe a fuga:
- Biruta, Biruta! Cachorro mais bobo, deu agora de se esconder... - Voltou-se para a patroa. E sorriu desculpando-se: - Até de mim ele se esconde.
A mulher passou mão no ombro do menino:
- Vou a uma festa onde tem um menino assim do seu tamanho. Ele adora cachorros. Então me lembrei de levar o Biruta emprestado só por esta noite. O pequeno está doente, vai ficar radiante, o pobrezinho. Você empresta seu Biruta só por hoje, não empresta? O automóvel ja está na porta. Ponha ele lá que já estamos de saída.
O rosto do menino resplandeceu num sorriso. Mas então era isso?!... Dona Zulu pedido o Biruta emprestado, precisando do Biruta!... Abriu a boca para dizer-lhe que sim, que o Biruta estava limpinho, e que ficaria contente de emprestá-lo para o menino doente, estava muito contente com isso... Mas sem dar-lhe tempo de responder, a mulher saiu apressadamente da cozinha.
- Viu, Biruta? Você vai numa festal - exclamou Alonso, beijando repetidas vezes o focinho do cachorro. - Você vai numa festa, seu sem-vergonha! Numa festa com crianças, com doces. com tudo! Mas pelo amor de Deus, tenha juizo, nada de desordens! Se você se comportar, amanhã cedinho te dou uma coisa. Vou te esperar acordado, hem? Tem um presente no seu sapato ... - acrescentou num sussurro, com a boca encostada na orelha do cachorro. Apertou-lhe a pata. - Te espero acordado, Biru ... Mas não demore muito!
O patrão já estava na direção do carro. Alonso aproximou-se.
- O Biruta, doutor...
O homem voltou-se ligeiramente. Baixou os olhos.
- Está bem, está bem. Pode deixá-lo aí atrás.
Alonso ainda beijou furtivamente o focinho do cachorro. Em seguida, fez-lhe uma última carícia, colocou-o no assento do automóvel e afastou-se correndo.
- Biruta vai adorar a festa! - exclamou assim que entrou na cozinha. - E lá tem doces, tem crianças, ele não quer outra coisa! - Fez uma pausa. Sentou-se. - Hoje tem festa em teda parte, não, Leduína?
A mulher já se preparava para sair.
- Decerto.
Alonso pôs-se a mastigar pensativamente.
- Foi hoje que Nossa Senhora fugiu no burrinho?
- Não, menino. Foi hoje que Jesus nasceu. Depois então é
que aquele rei manda prender os três.
Alonso concentrou-se, apreensivo:
- Sabe, Leduína, se algum rei malvado quisesse matar o Biruta, eu me escondia com ele no meio do mato e ficava morando lá a vida inteira, só nós dois!... - Riu-se metendo uma batata na boca. E de repente ficou sério, ouvindo o ruido do carro que já saía. - Dona Zulu estava linda, não?
- Estava.
- E tão boazinha também. Você não achou que hoje ela estava boazinha?
- Estava, estava muito boazinha, sim... - concordou a empregada. E riu-se.
- Por que você está rindo?
- Nada - respondeu ela pegando a sacola. Dirigiu-se à porta. Mas antes, parecia querer dizer qualquer coisa de desagradável e por isso hesitava, contraindo a boca.
Alonso observou-a. E julgou adivinhar o que a preocupava.
- Sabe, Leduína, você não precisa dizer para Dona Zulu que ele mordeu sua carteirinha, eu já falei com ele, já surrei ele, ele não vai fazer mais isso nunca mais, eu prometo que não.
A mulher voltou-se para o menino. Pela primeira vez encarou-o. E após vacilar ainda um instante, decidiu-se:
- Olha aqui, se eles gostam de enganar os outros, eu não gosto, entendeu? Ela mentiu para você, Biruta não vai mais voltar.
- Não vai o quê? - perguntou Alonso pondo a caçarola em cima da mesa. Engoliu com dificuldade o pedaço de batata que ainda tinha na boca e levantou-se. - Não vai o quê, Leduína?
- Não vai mais voltar. Hoje cedo ele foi no quarto dela e rasgou um pé de meia que estava no chão. Ela ficou daquele jeito. Mas não te disse nada e agora de tardinha, enquanto você lavava a louça, escutei toda a conversa dela com o doutor: que não queria mais esse vira-lata, que ele tinha que ir embora hoje mesmo, e mais isso, e mais aquilo... O doutor pediu para ela esperar, que amanhã dava um jeito, você ia sentir muito, hoje era Natal... Não adiantou. Vão soltar o cachorro bem longe daqui e depois seguem para a festa. Amanhã ela vinha dizer que o cachorro fugiu da casa do tal menino. Mas eu não gosto dessa história de enganar os outros, não gosto. É melhor que você fique sabendo desde já, o Biruta não vai voltar.
Alonso fixou na mulher o olhar inexpressivo. Abriu a boca.
A voz era um sopro quase inaudível:
- Não? ..
Ela perturbou-se.
- Que gente também! - explodiu. Bateu desajeitadamente no ombro do menino. - Não se importe, não, filho. Vai, vai jantar...
Ele deixou cair os braços ao longo do corpo. E arrastando os pés, num andar de velho, foi saindo para o quintal. Dirigiu¬se à garagem. A porta de ferro estava erguida. A luz do luar, uma luz branca e fria, chegava até a borda do colchão desmantelado.
Alonso cravou os olhos brilhantes e secos num pedaço de osso roído, meio encoberto sob um rasgão do lençol. Ajoelhou-¬se. E estendeu a mão tateante. Tirou debaixo do travesseiro uma bola de borracha.
- Biruta - chamou baixinho. - Biruta... - repetiu. E desta vez só os lábios se moveram e não saiu som algum.
Muito tempo ele ficou ali ajoelhado, imóvel, segurando a bola.
Depois apertou-a fortemente contra o peito, como se quisesse enterrá-la no coração.
_________
Conto extraído de: TELLES, Lygia Fagundes. Histórias escolhidas. São Paulo: Boa Leitura Editora, 1961.

CONTINUANDO...
Não era possível que dona Zulu faria tamanha crueldade com Biruta! Aquele foi o pior natal da vida de Alonso. Onde estaria Biruta, seu fiel companheiro? Aos prantos, Alonso deita e procura dormir, mas não consegue, falta alguém do seu lado, lambendo sua cara.
Ao amanhecer, Alonso vai à procura de Biruta. Percorre toda a cidade, perguntando pelo cachorrinho às pessoas, e nada! Quando já estava quase desistindo, Alonso ouve um latido inconfundível: era ele! Biruta tinha sido deixado em uma casa de cachorros abandonados, uma espécie de orfanato, lugar bem conhecido por Alonso. Aquele encontro foi único!
Biruta e Alonso foram adotados pela dona do canil, que se sensibilizou com a amizade dos dois e com a triste história de Alonso. E dona Zulu.. ah, essa nunca mais viu Biruta e nem Alonso.
(Nicole Sangalii, 2º ano A)


Alonso chorava, olhava para as coisinhas de Biruta e não se conformava que seu cachorro não voltaria mais para casa e ele não o veria nunca mais? Imaginava todas as pessoas em festa, com suas famílias, felizes, e ele sozinho naquela garagem fria com apenas os pertences de Biruta. Onde estaria Biruta naquele momento? Será que sentia sua falta? Já estaria feliz numa nova casa? Lágrimas rolavam no seu rostinho sofrido. Chorou até a exaustão e adormeceu.
Amanheceu e o menino chamava pelo nome do cachorro, chorava, soluçava e não queria acreditar no que Leduína o contara na noite passada. Então Alonso respirou profundamente, tomou novo ar e levantou disposto a tomar uma atitude.
_Leduína! Leduína!- gritava o menino. A empregada veio ao seu encontro. Alonso queria saber a qualquer custo onde estava o seu amigo. Leduína, com dó do garoto, resolveu investigar com Dona Zulu e descobriu onde Biruta fora solto.
Ao saber do paradeiro de Biruta, Alonso saiu pelas ruas alimentado pela esperança que guardava em seu coração e, ofegante, chegou à casa onde Biruta estava. Biruta aguardava o amigo na frente da casa, como se realmente soubesse que o amigo iria buscá-lo. Os olhinhos dos dois brilhavam e eles não cabiam em si de tanta alegria.
Os dois caminhavam agora rumo ao desconhecido. Mas não fazia mal, estavam juntos! Um não desgrudava do outro. E, pensando bem, este reencontro foi o melhor presente de natal que os dois poderiam ganhar! Nunca está sozinho e desamparado quem tem um amigo, que é o melhor e mais verdadeiro abrigo.
(Giovana Letícia Mosinahti, 2º ano A)


TIPOS DE DISCURSO

Discurso é a prática humana de construir textos, sejam eles escritos ou orais. Sendo assim, todo discurso é uma prática social. A análise de um discurso deve, portanto, considerar o contexto em que se encontra, assim como as personagens e as condições de produção do texto.
Em um texto narrativo, o autor pode optar por três tipos de discurso: o discurso direto, o discurso indireto e o discurso indireto livre. Não necessariamente estes três discursos estão separados; eles podem aparecer juntos em um texto. Isso acontece no texto em questão. Vejamos:

Discurso Direto

O discurso direto é o registro das palavras proferidas por uma personagem. O narrador deve expor a fala da personagem através do recurso gráfico: travessão ou aspas. É um tipo de discurso alheio a quem narra a história, ou seja, não há interferência por parte do narrador.
Alguns verbos, chamados de elocução, são utilizados no começo, no meio ou após os discursos, são eles: dizer, perguntar, responder, exclamar, ordenar, falar, protestar, contestar, alegrar, alegar, concordar etc.

“Isso tinha acontecido há duas semanas. E agora Biruta mordera a carteirinha de Leduína. E se fosse a carteira de dona Zulu?”

“- O Biruta está limpo, não está? - Prosseguiu a mulher, inclinando-se para fazer uma carícia na cabeça do cachorro.” - O Biruta está limpo, não está? - Prosseguiu a mulher, inclinando-se para fazer uma carícia na cabeça do cachorro.

“ - Sente-se aí, Biruta, que vamos ter uma conversinha - disse Alonso pousando a bacia ao lado do tanque. Ajoelhou-se, arregaçou as mangas da camisa e começou a lavar os pratos."

Discurso Indireto

O discurso indireto é definido como o registro da fala da personagem sob influência por parte do narrador. Nesse tipo de discurso, os tempos verbais são modificados para que haja entendimento quanto à pessoa que fala. Além disso, costuma-se citar o nome de quem proferiu a fala ou fazer algum tipo de referência.

“- Leduína disse que você entrou no quarto dela - começou o menino num tom brando. - E subiu em cima da cama e focinhou as cobertas e mordeu uma carteirinha de couro que ela deixou lá.”

“O doutor pediu para ela esperar, que amanhã dava um jeito, você ia sentir muito, hoje era Natal... Não adiantou.”


Discurso Indireto Livre

Discurso Indireto Livre ocorre quando o texto é escrito em terceira pessoa e o narrador conta a história, mas as personagens têm voz própria, de acordo com a necessidade do autor de fazê-lo. Sendo assim, a narrativa é interrompida para dar lugar a uma fala da personagem sem, contudo, utilizar o recurso gráfico (aspas, travessão) do discurso direto. As falas ou pensamentos das personagens surgem abruptamente durante a narração e, por este motivo, o leitor deve estar atento ao que lê.

“Isso tinha acontecido há duas semanas. E agora Biruta mordera a carteirinha de Leduína. E se fosse a carteira de dona Zulu?”

“Deixou cair na caçarola a batata já fria. E ficou em silêncio, as mãos abertas em torno a vasilha. Apertou os olhos. Deles, irradiou-se para todo o rosto uma expressão dura. Dois anos seguidos esperou por ela. Pois não prometera levá-lo? Não prometera? Nem lhe sabia o nome, não sabia nada a seu respeito, era apenas ‘a madrinha’”


FONTE (conceitos):
http://www.mundoeducacao.com.br/redacao/discurso.htm
http://www.infoescola.com/redacao/tipos-de-discurso/


PASSANDO O DISCURSO DIRETO PARA O INDIRETO

Na passagem do discurso direto para o indireto, ocorrem alterações gramaticais importantes. Por exemplo, os verbos apresentandos no imperativo afirmativo passam para o pretérito imperfeito; os pronomes na 1ª pessoa são substituídos por pronomes da 3ª pessoa; e torna-se necessária a utilização de um novo verbo, do tipo chamado dicendi, para introduzir a fala do locutor. Verbos dicendi são aqueles que indicam o ato de falar e o modo como se fala: dizer, pedir, exclamar, interrogar, suplicar, comentar, resmungar etc. Veja, no quadro a seguir, as principais transformações que ocorrem na passagem do discurso direto para o indireto, e vice-versa.


FONTE:
Todos os Textos, 8º ano/ William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. 3. ed. São Paulo: Atual, 2007





QUE TIPO DE DISCURSO HÁ NOS ENUNCIADOS ABAIXO?
1) “Enlameado até a cintura, Tiãozinho cresce de ódio. Se pudesse matar o carreiro... Deixa eu crescer!... Deixa eu ficar grande!... Hei de dar conta deste danisco... Se uma cobra picasse seu Soronho... Tem tanta cascavel nos pastos... Tanta urutu, perto de casa... se uma onça comesse o carreiro, de noite... Um onção grande, da pintada... Que raiva!... Mas os bois estão caminhando diferente. Começaram a prestar atenção, escutando a conversa de boi Brilhante.”
(Guimarães Rosa. Sagarana. Rio de Janeiro, José Olympio, 1976.)

2)Carolina já não sabia o que fazer. Estava desesperada, com a fome encarrapitada. Que fome! Que faço? Mas parecia que uma luz existia…

3) O delegado ordenou ao promotor que saísse da delegacia.

4) “Que vontade de voar lhe veio agora! Correu outra vez com a respiração presa. Já nem podia mais. Estava desanimado. Que pena! Houve um momento em que esteve quase... quase!”

5) “O Guaxinim está inquieto, mexe dum lado pra outro. Eis que suspira lá na língua dele - “Chente! que vida dura esta de guaxinim do banhado!...”

6) “Elisiário confessou que estava com sono.” ( Machado de Assis)

7) “O padre Lopes confessou que não imaginara a existência de tantos doudos no mundo e menos ainda o inexplicável de alguns casos.

8) “- Guardo tudo o que meu neto escreve - dizia ela.” (A.F. Schmidt)

9) “Ela dizia que guardava tudo o que o seu neto escrevia.”

10)” Em que estariam pensando?, zumbiu sinha Vitória. Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas sinha Vitória renovou a pergunta – e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem.” (Graciliano Ramos)

11) "Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.
- Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai." (Graciliano Ramos)

12) "O pai gritou-lhe que andasse, chamando-o de condenado do diabo." (Graciliano Ramos)

13)“Retirou as asas e estraçalhou-a. Só tinham beleza. Entretanto, qualquer urubu… que raiva…” (Ana Maria Machado)

14) “D. Aurora sacudiu a cabeça e afastou o juízo temerário. Para que estar catando defeitos no próximo? Eram todos irmãos. Irmãos.” (Graciliano Ramos)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

CARTA ARGUMENTATIVA (devolutiva da proposta sobre Copenhague)



Olá, meus alunos fera!

Como já é público e notório,aproxima-se o dia fatídico, o dia D, da
prova de Redação. Não é também nenhuma novidade, mesmo para os viajantes do
espaço (KKK), que o gênero a ser cobrado será a CARTA ARGUMENTATIVA, cuja teoria
já foi assunto de um post do mês de março. "Tiorias" à parte, segue texto comentado sobre a proposta sobre Copenhague, também anteriormente postada neste blog lindo, que, em breve, vai ficar rosa-chiclete e lilás (Aguardem!!!).
Para vocês terem um certo parâmetro, achei pertinente postar um texto que considerei bom.
Beijo grande! E BOA LEITURA!


Catanduva, 16 de abril de 2010.
Excelentíssimo Senhor Presidente Barack Obama,

Como cidadão brasileiro e, acima de tudo, habitante do planeta Terra, não posso deixar de expressar meu desapontamento diante da postura de Vossa Excelência e, mais especificamente, de seu governo, durante a conferência climática de Copenhague. Isso se deve à indisposição de seu governo para assumir uma política ambiental mais engajada, mesmo frente a uma iminente catástrofe climática global.

A meu ver, alguém que exerce o cargo de Presidente dos Estados Unidos, nação mais rica e poderosa do mundo, como é o caso de Vossa Excelência, deveria dar o exemplo para os governantes de outros países, tomando posições mais firmes sobre este assunto. Além disso, o senhor tem o dever de “prestar contas” ao mundo pelo fato de seu país ser, ao lado da China, o maior emissor de gases poluentes, como o dióxido de carbono. Assim, levando em conta esses fatores, é realmente vergonhoso o papel que o senhor desempenhou em Copenhague.

Os motivos, principalmente de cunho econômico, que levaram Vossa Excelência a tomar tal atitude podem até ser entendidos quando analisamos a posição ocupada pela economia dos Estados Unidos. Entretanto, esta atitude que, a curto prazo, gera vantagens para seu país, pode, a longo prazo, ter um reflexo catastrófico para todo o planeta. Nesse contexto, o Excelentíssimo Presidente não acha correto abdicar de uma ínfima parcela de crescimento econômico, hoje, em prol de assegurar um futuro para seu país e para o mundo?

Além disso, o crescimento econômico que seria “perdido” num primeiro momento poderia ser recuperado mais tarde de forma sustentável, bastando, para isso, o incentivo a esse tipo de desenvolvimento, como a busca de formas de energias mais limpas. Esse também seria o momento certo para repensar o modelo de vida levado pela sociedade norte-americana, baseado num consumismo insustentável, que caminha para o colapso. Um exemplo disso são os efeitos da crise econômica mundial na população de seu país, que sofreu (e ainda vem sofrendo) com vários problemas dessa ordem.

Assim, como uma pessoa consciente dos problemas ambientais enfrentados pelo mundo, peço, humildemente, para que Vossa Excelência repense seu posicionamento quanto às políticas de combates às mudanças climáticas. Se “sem sacrifício não há vitória”, é justo desacelerar um pouco a economia para que o mundo seja salvo deste funestro futuro que nos assombra.
(Luís Augusto Furlan Financi – 3º ano B)

VEJAMOS AS QUALIDADES DO TEXTO...

A ESTRUTURA

INTRODUÇÃO: Nesta parte, o autor já deixou claro "a que veio", ou seja, apresentou-se (em linhas gerais, só para situar o seu ponto de vista) e expôs o objetivo de seu texto, ou seja, manifestar o seu repúdio ao fato de o referido presidente não ter assinado o acordo proposto em Copenhague.

DESENVOLVIMENTO: O autor se vale das informações presentes na coletânea. Ele, baseado nelas, prevê os argumentos do líder e procura refutá-los. Trata-se de um raciocínio lógico, centrado em argumentos práticos, sem as pieguices
que, normalmente, aparecem quando o tema é a "degradação da natureza", isto é, aqueles argumentos que já são estereótipos (clichê), do tipo "Enquanto o homem não se conscientizar que, destruindo a natureza, estará destruindo a si mesmo...".

CONCLUSÃO: O autor fez um último apelo, com claro objetivo de sensibilizar o destinatário. Valeu-se de uma citação veemente para justificar a mudança de postura do interlocutor. O tom fica mais apelativo (uma verdadeira pressão psicológica) ao colocar nas mãos do presidente o futuro do planeta. A conclusão não foi uma mera parte (formalidade) do texto, mas a oportunidade da "cartada final", um último e contundente recurso para persuasão.

A INTERLOCUÇÃO

Ficou evidente a presença de um emissor (primeira pessoa) e de um receptor definidos ("Vossa Excelência", "o senhor"). Houve um diálogo, um apelo direto. É um erro muito comum o estudante "disfarçar" o texto dissertativo- argumentativo de carta, apenas colocando um vocativo no início e deixando tudo na impessoalidade, de modo que não há uma interação entre os interlocutores. Trata-se, entretanto, de um grave equívoco!

A PROGRESSÃO DAS IDEIAS

As ideias progridem retomando o que foi anteriormente posto, ou seja, acrescenta-se e se retoma, retoma-se e se acrescenta, numa verdadeira "teia" (donde vem a palavra TEXTO, particípio do verbo TECER), uma trama, um "costurado" de ideias que se interligam GRAMATICALMENTE através dos recursos de coesão. No texto, "isso" (retomando algo anteposto), "além disso" (acrescentando um novo dado ou ideia), "assim" (dando a entender que está retomando e, ao mesmo tempo, concluíndo uma ideia) etc.

LINGUAGEM
Linguagem simples, direta,em norma padrão, e, principalmente, sem os períodos longos que, na maioria das vezes, tornam o texto prolixo, confuso ou mesmo um não-texto.
O autor empregou verbos na terceira pessoa ao se referir ao pronome de tratamento "Vossa Excelência", como "manda o figurino". Além do mais, seguiu à risca aquela instrução (lembra?) que estudamos de não abreviar tal pronome quando se tratar de presidentes (chefes de estado).

COMO DIZIA DRUMMOND, LUTEMOS COM AS PALAVRAS! E (eu, reles mortal) ACRESCENTO: E
A VITÓRIA SÓ VEM COMO RESULTADO DE MUITO ESFORÇO!
AVANTE, MEUS GUERREIROS!


SEM ESSA DE "EVITAR A FADIGA"!





VAMOS! ANIME-SE! ENTUASIASMO!

OUÇA! Acompanhe a simetria da natureza: DUAS orelhas, UMA boca...

LEIA!LEIA! E LEIA!

ARRISQUE-SE! Uma linha, um parágrafo, um texto...um livro (!), quem sabe...


EXERCITE-SE!



E NÃO DESANIME DIANTE DAS DIFICULDADES!


NÃO SEJA RABUGENTO QUANDO SEU TEXTO FOR CRITICADO!


AUTOCONFIANÇA!


O CAMINHO É LONGO! MAS, SE VOCÊ DER UM PASSO A CADA DIA...


VOCÊ CHEGA LÁ!

domingo, 2 de maio de 2010

Eu não ensinei, vírgula!

O emprego da vírgula é um pouco mais complexo do que aquele velho conceito de “uma pausa para respirar”. Se assim o fosse, um corredor amador da São Silvestre, ao término da prova, escreveria:




“Obrigado, a, meus, parentes, pelo, apoio, e, compreensão!”

Como se trata de um assunto (do qual trataremos posteriormente) complexo, cuja compreensão depende de conhecimento sobre a sintaxe, vou sintetizar neste post o que é mais fácil: situações onde não se usa a vírgula, que têm sido, na verdade, o equívoco mais comum nas redações.

Vamos, então, à UTI virgulal:

Em hipótese alguma, use vírgulas entre:

a) SUJEITO - VERBO - COMPLEMENTO DO VERBO

Essa regra não tem nenhuma exceção, nem mesmo se o sujeito da oração for enorme e seu fôlego não aguentar chegar até o verbo.

Certo: Empresários e gestores de todos as empresas almejam crescer na carreira e alcançar seus objetivos profissionais e pessoais.

Errado
: Empresários e gestores de todos as empresas , almejam crescer na carreira e alcançar seus objetivos profissionais e pessoais. (o uso da vírgula separa sujeito do verbo)

Errado: Empresários e gestores de todos as empresas almejam , crescer na carreira e alcançar seus objetivos profissionais e pessoais. (o uso da vírgula separa verbo do seu complemento)

b) NOME e ADJUNTO ADNOMINAL
certo: A gralha azul é um símbolo do Paraná.
Errado: A gralha, azul é um símbolo do Paraná.

c) NOME e COMPLEMENTO NOMINAL
Certo: O amor à mãe é quase que inato.
Errado: O amor, à mãe é quase que inato.