sexta-feira, 25 de junho de 2010

A ENTREVISTA (E AS ENTRELINHAS)




Como temos constantemente ressaltado em nossas aulas, precisamos explorar o maior número possível de gêneros textuais. Dentre os jornalísticos, já vimos: a crônica, a notícia, o editorial e o artigo de opinião ( todos presentes neste blog). Agora exploraremos um outro, trivial, porém de suma importância: a entrevista. Há quem diga que não existe jornalismo sem tal gênero. E há também quem diga que pode ser um dos gêneros presentes na redação dos principais vestibulares, como, por exemplo, na UNICAMP, que o incluiu no seu simulado, realizado no mês passado, dia 16 (http://www.comvest.unicamp.br/vest2011/simulado/
download/simulado2011.pdf
. Ah! Por falar nisso...

(Professora Matilde Scaramucci, uma das idealizadoras das mudanças na redação da Unicamp)







Eu (juntamente com professoras Eliana e Kely) participei da oficina de redação realizada pela UNICAMP no último dia 19. O evento, que é realizado regularmente por tal instituição, tem como público alvo professores de todo o país que atuam em ensino médio e cursinhos e objetiva esclarecer sobre as perspectivas, objetivos, critérios de correção... da COMVEST ( Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp) para a prova de redação. Então o Colégio Ressurreição não poderia ficar de fora. Queremos ficar à frente para vocês também ficarem!
Este ano, o encontro teve um diferencial em relação aos pregressos: visou esclarecer as mudanças na prova de redação, que saiu do paradigma da tipologia textual para entrar na perspectiva dos gêneros textuais, já presentes em outras grandes universidades do país, como a UFU, UFG, UFMG, UFMT, UEL, etc.

Ficou-nos evidente que a prova será essencialmente de LEITURA e produção de texto, e não só a última, como em tempos remotos, já que, até o ano passado, a exemplo da grande maioria das universidades, a UNICAMP fornecia uma coletânea única que, com base nela e no seu conhecimento de mundo, o candidato teria que se expressar por meio de uma das três modalidades de texto: dissertação clássica (texto dissertativo argumentativo), narração ou carta argumentativa. Agora não existe mais a tal coletânea, mas os chamados “textos-fonte”, sendo um para cada um dos três textos solicitados. Sim! Você não leu errado: antes, o candidato redigia um único texto; agora são três textos, sendo que cada uma das produções deve ser, OBRIGATORIAMENTE, consubstanciada em um texto-base, de gênero diferente do solicitado. Desse modo, a coletânea funcionava apenas como eixo norteador da produção, pois o candidato poderia acrescentar aspectos não presentes nela, mas que fossem pertinentes ao tema. Já o texto-base é, ao mesmo tempo, o delimitador do assunto e o fornecedor das informações básicas para a produção, ou seja, não há mais aquela relativa liberdade. Nesse contexto, fazer uma leitura equivocada (sem reconhecer os objetivos, a ideia central e as secundárias do texto-base) pode invalidar a produção textual. Por isso, eis o antídoto anti-equívoco: leitura, leitura e leitura. E só para treinar a LEITURA, passemos à proposta da entrevista.

Redação - Texto 1
Leia a matéria abaixo, publicada na revista acadêmica Pesquisa Rio. Imagine que um diretor de uma escola se entusiasmou com o projeto e decidiu divulgá-lo no site de sua instituição. Para isso fez uma pequena entrevista com a coordenadora da Oficina de Experimentação Corporal mencionada na matéria. Crie essa entrevista, marcada pelo discurso oral formal, na qual deverão constar, necessariamente:
- três perguntas que explorem dados importantes da matéria;
e
- as respectivas respostas, também com base na matéria.

Lembre-se de que não deverá recorrer à mera colagem de trechos do texto lido.

Perceber sem ver

Imagine não conseguir ver o mundo que nos cerca e, mesmo assim, ter que aprender a viver nele. Esse desafio é uma realidade para mais de 1 milhão de cegos e 4 milhões de pessoas com deficiência visual que vivem no Brasil. No Instituto Benjamim Constant (IBC), a Oficina de Experimentação Corporal, coordenada pela professora Márcia Moraes, procura promover e ampliar os modos pelos quais as pessoas com deficiência visual experimentam e conhecem o próprio corpo e o mundo à sua volta.

O trabalho, que contou com o apoio da FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), é realizado por meio de uma parceria entre a UFF (Universidade Federal Fluminense) e o IBC, e conta com nove jovens – graduandos e mestrandos de psicologia da UFF e estudantes de dança da pós-graduação da Faculdade Escola Angel Vianna – que organizam as oficinas. Nelas, procura-se trabalhar a percepção do corpo, os movimentos, a noção de espaço e as diferentes texturas dos objetos. A finalidade é que, por meio dessas experimentações e sensibilizações corporais, os integrantes do grupo possam conhecer melhor o espaço a sua volta, o outro e a si mesmos, o que contribui para uma maior autonomia e independência do grupo. Os encontros, que ocorrem duas vezes por semana, têm duas horas de duração.

Em 2008, o grupo deixou de trabalhar com crianças e passou a fazer oficinas com jovens e adultos com cegueira adquirida ou com baixa visão. Os exemplos bem-sucedidos têm sido muitos. “Quando você perde a visão, você morre e nasce de novo”, fala Camila Araújo Alves, de 18 anos, cega desde os 14, por conta de uma doença congênita. Da revolta à aceitação, Camila passou por várias fases difíceis enquanto perdia gradativamente a visão. A determinação para ingressar na universidade a levou a estudar com enorme
afinco. O resultado compensou: dos seis vestibulares que prestou, passou em quatro e acabou optando pelo curso de psicologia da UFF, onde conheceu a coordenadora da oficina.

Camila não só começou a participar das oficinas de experimentação corporal como também é membro da equipe de pesquisa. Além disso, passou pelos cursos de reabilitação no instituto. “Nas aulas de Atividades da Vida Diária e de Orientação e Mobilidade reaprendi a fazer uma série de atividades cotidianas e pude reconquistar certa autonomia. Hoje moro com minha prima e me viro sozinha.”

(Adaptado de “Perceber sem ver”, Pesquisa Rio, março de 2010, ano III, número 10.)

OS DESAFIOS DA PROPOSTA
Primeiramente, o candidato teria que fazer uma leitura proficiente do texto, reconhecendo seus pontos mais relevantes, os quais, necessariamente, deveriam ser convertidos em três perguntas básicas. No entanto, a mera elaboração destas não configuraria como uma entrevista, e sim como um conjunto caótico de perguntas e respostas. Não ficou explícito na proposição, mas o candidato teria que ter a sensibilidade de elaborar um texto introdutório, contextualizando as perguntas e respostas, de modo a configurar o gênero entrevista. Foi justamente a introdução que determinou a diferença entre o texto acima e o abaixo da média. Confira no endereço:
http://www.comvest.unicamp.br/vest20/simulado
/download/exemplos_textos
_redacao.pdf .

Um outro desafio é aquele a que se refere a seguinte advertência: “Lembre-se de que não deverá recorrer à mera colagem de trechos do texto lido.”. Como o candidato não pode simplesmente transcrever (instrução validade para qualquer situação de coletânea ou texto-base) , ele precisa ter a habilidade de dizer as mesmas coisas, mas com palavras ou estruturas diferentes, isto é, “paráfrase é preciso”, pois o famoso Ctrl C/Ctrl V não é permitido. Aliás, as habilidades de parafrasear, resumir, relacionar (intertextualidade), resenhar, foram listadas dentre as possíveis exigências.

A ENTREVISTA: CONCEITO E ESTRUTURA



Entrevista é o encontro entre duas pessoas, com vistas a que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, utilizando-se para isso de uma conversação de natureza técnico-profissional.
Trata-se de um dos instrumentos de pesquisa do repórter. Com os dados nela obtidos, ele pode montar uma reportagem de texto corrido em que as declarações são citadas entre aspas ou pode montar um texto tipo perguntas e respostas, também chamado "pingue-pongue".

A ESTRUTURA DA ENTREVISTA

1º) Seção da revista com o título “Entrevista” conjuntamente com o nome do entrevistado.

2º) Título: remete ao assunto da entrevista.

3º) Frase de abertura (opcional): em todas as entrevistas da Veja aparece uma frase que abre o assunto sobre o qual se irá tratar. Caracterizada por ser escrita no discurso indireto, deixa transparecer a opinião do entrevistado sobre o assunto que será abordado, como, por exemplo: “O filósofo muçulmano diz que a ponte entre o Ocidente e o Islã é possível e desejável”.

4º) Contextualização da entrevista: espaço destinado à apresentação do entrevistado, visto que este, geralmente, é desconhecido do público em geral. Além de dados biográficos do entrevistado, esse espaço destina-se à razão para a realização da entrevista, como também o assunto dela enriquecido por detalhes.

5º) Fotografia do convidado: em destaque, aparece a fotografia do entrevistado, seguida de uma citação – “Se o Islã e o Ocidente partirem para o choque de civilizações, os dois lados sairão derrotados”.

6º) Entrevista em si: na seqüência do layout das entrevistas têm-se, então,as perguntas e respostas. É importante ressaltar que, embora apareça o nome do entrevistador abaixo do lead (no caso, Antonio Ribeiro), ele não é usado na apresentação da entrevista, cabendo ao nome Veja esse papel. Esse fato nos mostra que é a revista Veja, a instituição, que interage com o entrevistador. Nesse sentido, “a responsabilidade das perguntas e a condução da entrevista como um todo é da revista, e não do entrevistador. Ao mesmo tempo, este estilo personaliza a instituição, já que é ela que aparentemente está interagindo diretamente com o entrevistado” (Hoffnagel, 2003: 185). Como exemplo disso, pode-se citar:

Veja – O mundo seria melhor se os conflitos entre povos e nações fossem
resolvidos por meio de guerras de caricaturas?
Ramadan – Caricaturas e humor dependem da realidade de cada um [...].

EXEMPLO DE ENTREVISTA (partes indicadas entre parênteses)

(1º) ENTREVISTA DE JOSÉ SARAMAGO
José Saramago: “ESCREVO PARA DESASSOSSEGAR”(2º)
(3º) Cada lançamento de um livro seu levanta expectativas. Não em vão estamos falando de um dos prêmios Nobel mais respeitados dos últimos anos. Sua última novela, A Caverna, fechou uma festejada trilogia iniciada com Ensaio Sobre a Cegueira, e continuada com Todos os Nomes, que questiona de forma filosófica a humanidade e sua desrazão. “Entramos na era da burocracia absoluta, caminhamos para a ignorância. O homem, cercado de informação, perplexo, perde sua capacidade de indignação, de racionalidade mínima”, disse o escritor.
A geração de Saramago, talvez a mais expressiva desde Eça de Queiróz, tem como principais representantes, além dele, Antonio Lobo Antunes, Cardoso Pires, Maria Gabriela Llansol e os poetas Al Berto e Herberto Helder. Nascido em 1922, numa aldeia chamada Azinhaga, no Alentejo português, a região sul do país onde se produzem azeitonas, cortiça e trigo, José Saramago nunca pensou em tornar-se escritor e só comprou seu primeiro livro aos 18 anos. Aos 25 escreveu e publicou a novela Terra do Pecado, voltando à literatura depois dos 40, com os versos de Poemas Possíveis, de 1966. Trabalhou como mecânico, desenhista, editor e jornalista do importante Diário de Notícias e, em 75, desempregado, resolveu não procurar emprego e sim escrever. Publicado em 40 idiomas, é autor de Levantando do Chão, O Ano da Morte de Ricardo Reis, História do Cerco de Lisboa, Memorial do Convento, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, entre outros.
É o meu terceiro encontro com o famoso escritor português. Havia entrevistado-o em 1997 e certa vez, cobrindo a abertura de uma exposição fotográfica do brasileiro Sebastião Salgado, no Partido Comunista Português, ele encontrava-se presente. Conheço pouco da sua criação literária, não é um escritor que me interesse o suficiente. Desta vez, a entrevista foi marcada num café em um edifício de Restauradores, pleno centro de Lisboa. Da alta varanda vê-se o imponente Castelo de São Jorge, as colinas melancólicas, o rio Tejo e pombas gordas e barulhentas. Saramago, calvo, de óculos, sentado numa cadeira ao lado da bonita esposa, a espanhola Pilar del Río, recebe o sol inclemente nas costas. Sólido, elegante e cordial assina um exemplar de A Caverna para um jovem garçom, que olha o escritor com admiração. Ele prefere viver na vulcânica ilha de Lanzarote, seu refúgio cercado de azul atlântico no arquipélago das Canárias. É onde escreve duas páginas por dia de sua literatura. Mesmo assim, pelo menos uma vez ao mês visita Lisboa. Não existem palavras vazias para o autor de Jangada de Pedra. Suas mãos se movem expressivas, as sobrancelhas sobem e descem, e o olhar é melancólico como os fados de Amália Rodrigues. A entrevista ocorreu numa atmosfera cálida. Nem mesmo o seu sorriso irônico provocou qualquer contratempo. (AJ)
(4º)
Antonio Júnior - O senhor tem uma relação difícil com Portugal, inclusive vive em outro país. Mesmo assim os portugueses insistem em colocá-lo como representante oficial deste país.
José Saramago - Eu não posso e nem quero representar Portugal. Nada do que penso transmite tal idéia. Quanto a viver aqui, por que tenho que o fazê-lo depois da infame proibição de O Evangelho Segundo Jesus Cristo? Fiquei indignado e triste e as circunstâncias me levaram a viver em Lanzarote. Além do mais, Jorge de Sena vivia no Brasil e depois nos Estados Unidos, Eduardo Lourenço vive na França e muitos outros escritores e poetas viveram ou vivem fora daqui. O importante é que pago os meus impostos. Nunca houve uma ruptura com o meu país. Não sou um exilado como dizem os meios de comunicação, que chegaram a me chamar do Salman Rushdie português.
AJ - Volta sempre a sua pequena aldeia no Alentejo?
JS - Estive lá um dia desses. Mas acredito que sou filho do tempo em que vivo e não do lugar onde nasci. Digo porque, a vila onde nasci já não é a mesma depois de 70 anos. Mudou completamente a paisagem. Haviam extensões incríveis de oliveiras que foram arrancadas. Quando chego ali, me encontro em outro mundo, que não é o mundo da memória.
AJ - O senhor vive numa ilha tranqüila. Não se sente distante do mundo moderno?
JS - Não vive distante do mundo. Estou sempre viajando, venho a Portugal todos os meses. E escrevo novelas que provam que tenho um certo interesse e algumas idéias sobre o mundo e sobre os seres humanos.
AJ - O senhor acredita num mundo melhor?
JS - Acredito que temos que fazer algo por um mundo mais justo, buscar soluções para os problemas. Efetivamente, não adianta a crença num mundo melhor se continuarmos de braços cruzados, apenas acreditando em conceitos como esperança e utopia. É preciso indignarmo-nos. Ou melhor, deveríamos refletir seriamente sobre o que está acontecendo no mundo, na economia, na ecologia, na desigualdade, na indiferença, no racismo.
AJ - Por que o senhor evita qualificar-se como pessimista?
JS - Porque eu não sou pessimista, apenas observo a realidade. É só olhar o mundo e ver o que está acontecendo, ver o desespero de milhões de pessoas que vivem miseravelmente. Aparentemente existe o protótipo do mundo feliz, porém feliz para poucos. O mundo é um pesadelo e poderia não sê-lo, porque existem muitas formas de contornar essa situação.
AJ - Mas a sua literatura é considerada pessimista.
JS - Não gosto de discutir esse conceito, não leva a nada. Não existe o pessimismo puro, da mesma maneira que não existe o otimismo puro. O que posso dizer é que não sou pessimista, apenas tenho uma visão do mundo bastante pessimista.
AJ - Crer que a literatura pode ajudar a humanidade?
JS - A literatura pode muito pouco. Não vamos embarcar em ilusões, no otimismo. Ajudar a humanidade? Não sei se a humanidade quer ser ajudada. Mas a missão do escritor, se existe alguma, é não calar-se, que deveria ser a missão de todas as consciências.
AJ - A sua criação não é fácil. Como acredita que as pessoas mais simples intelectualmente podem captá-la?
JS - A idéia não é procurar escrever pensando que todo mundo vai compreender sua literatura. O problema não está em levar os livros para a gente mais simples; está em que cada um de nós faça da melhor maneira possível aquilo que sabemos. Seria um erro fazê-lo pior, podendo fazê-lo melhor. A criação de um autor deve estar ao alcance de todas as pessoas, para que elas procurem e possam entendê-la. O caminho é a cultura ao alcance de todos. Sei que há livros meus que muita gente não entende, e tenho que declarar, muito humildemente, que há livros que não entendo, que também não estão ao meu alcance.
AJ - Como o senhor definiria a novela, talvez o gênero literário que mais trabalhe?
JS - Faço novela porque não aprendi a escrever ensaios. Eu não tenho imaginação. A novela, como eu a vejo, mudou muito, não é mais como as magníficas novelas do passado que contavam histórias sobre a vida das pessoas. Vejo a novela não como um gênero literário, mas um espaço criativo onde devem estar o ensaio, o drama, a filosofia, a ciência. É preciso transformar a novela num depósito da sabedoria humana.
AJ - Mas este é um conceito antigo.
JS - Talvez, mas que teve a sua meta desviada. Nas minhas novelas, tenho a história que quero contar, limitada ao essencial. Logo, sem perceber, entro com uma reflexão ensaísta ou filosófica, deixando o narrador ou os personagens de lado por instantes. E o autor fala sem estar previsto inicialmente.
AJ - Esse autor que fala confunde-se com o narrador?
JS - Eu não acredito no narrador, ele não existe, é uma invenção. O que está no texto é um senhor que se chama autor e nada mais, muitas vezes fingindo que é o narrador.
AJ - Camilo José Cela declarou numa entrevista que, ao ganhar o Nobel, é preciso muita força e saúde para não esgotar-se completamente.
JS - É verdade. Fiquei muito cansado. Não fazia outra coisa senão viajar. Foram muitos congressos, entrevistas, lançamentos, apresentações, doutoramentos honoris causa. O próprio Cela já havia me avisado que o ano imediato ao prêmio é perdido. Mas não me queixo.
AJ - A cultura se move muito por modas. Quando pensamos que os brasileiros estão interessados na literatura portuguesa, como é o caso da sua obra e da de Lobo Antunes, não estaremos dando importância a algo passageiro?
JS - As modas não são negativas. Sem moda seguiríamos como antes. É bom que surja algo diferente, mesmo efêmero. Algo sempre permanece. Inclusive falando de autores que estão na moda. Se com a moda da literatura portuguesa, que você disse que existe no Brasil e eu não creio muito, passamos a vender um pouco mais, já é bastante interessante.
AJ - Saramago não é o seu verdadeiro sobrenome?
JS - Eu fui o primeiro Saramago da família, porque o empregado do registro civil fez uma pequena confusão. Sou um Souza. Saramago é uma planta que nos tempos da minha infância, e antes, as pessoas da minha aldeia, em épocas de crises, digamos, comiam saramagos. Gosto do meu sobrenome, não queria ser chamado de José de Souza.
AJ - Por que escreve dia após dia?
JS - Eu vivo desassossegado, escrevo para desassossegar. Não desejo abandonar-me a comodidade existencial. Mas o que procuro saber com a minha escrita, no fundo, é essa coisa tão simples e que não tem resposta: quem somos? Porém, quando esgotar o que tenho que dizer, terei a sensatez de não escrever mais.
Antonio Júnior
(de Lisboa)
( Extraída do site: http://www.blocosonline.com.br/entrevista/pop_artistas/jose.php)

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